Polícia investiga se houve racismo contra jovem retirado à força de vagão por seguranças do Metrô-DF
A Polícia Civil investiga a ação de seguranças do Metrô do Distrito Federal contra um jovem negro. No dia 14 de maio, Rafael Cruz, de 31 anos, foi retirado à força do vagão e imobilizado, com um mata-leão, por dois funcionários do transporte público. A cena foi gravada por outros passageiros.
Nesta segunda-feira (24), Rafael – que é conhecido por recitar poesias nos vagões – registrou o boletim de ocorrência na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).
Na denúncia, ele alega “abordagem abusiva e agressiva, prática de conduta preconceituosa e suspeita de racismo“. O caso foi registrado como vias de fato e crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, com base na lei de racismo.
“Fica a pergunta: por que eu? Só por causa da minha cor? Não sei o que foi. Praticamente foi racismo. Porque a forma que fui abordado por eles, totalmente desnecessária, mostrou tamanha violência, quando eles me deram um mata leão, e passou pela minha cabeça sim, de ser o George Floyd brasileiro. Isso não pode ficar assim, para que não aconteça comigo e nem com mais ninguém”, disse Rafael.
No dia da agressão, a Companhia do Metropolitano (Metrô-DF) informou que Rafael foi abordado por tentar trocar de vagão, segurar a porta do trem e disse ainda que o rapaz estava sem máscara de proteção contra a Covid-19. A identidade dos seguranças que aparecem nas imagens não foi divulgada.
Questionado nesta terça-feira (25) sobre a investigação, o Metrô informou que não foi notificado pela Polícia Civil. O G1 tenta contato com a Decrin para mais informações sobre o caso.
“Eu quero justiça”
Rafael Cruz é morador de Samambaia e conhecido por andar pelas estações do Metrô-DF declamando poesia, em troca de ajuda dos passageiros. Ele conta que não estava fazendo nenhuma atividade ilegal no transporte público quando foi abordado pelos seguranças.
“Eu quero justiça, até porque somos seres humanos. Eu não fiz nenhuma atividade ilegal lá no metrô, pela abordagem que fizeram. Eu passei humilhação. Minha família toda viu o vídeo”, disse.
Rafael foi acompanhado até a delegacia pelo presidente do Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (Centrodh), Michel Platini. Ao G1, o representante da entidade disse que o caso do jovem é emblemático e “significa o George Floyd brasileiro” – homem negro morto no dia 25 de maio de 2020 após ter o pescoço pressionado pelo joelho de um policial, nos Estados Unidos.
“Uma pessoa que foi duramente discriminada e sofreu diversos constrangimentos dentro do metrô. Esperamos uma imediata resposta, porque nós acreditamos que esse caso tem um efeito na sociedade e por isso nós precisamos agir. Racismo mata e a gente precisa denunciar”, disse Platini.
Crime de racismo
Os crimes de racismo estão previstos na Lei 7.716/1989, que foi elaborada para regulamentar a punição de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Relembre o caso
No dia 14 de maio, passageiros do Metrô do Distrito Federal gravaram o momento em que dois seguranças retiraram, à força, Rafael de um dos vagões, na Estação Praça do Relógio, em Taguatinga.
Na época, o Metrô disse que o rapaz estava sem máscara de proteção contra a Covid-19. Já as testemunhas contaram que o jovem é conhecido por recitar poesias nos vagões.
A pessoa que gravou as imagens disse que “a confusão começou sem que ele [o jovem] tivesse feito nada de mais”, e que ele “apenas recitava um de seus poemas, em forma de protesto”.